À moda brasileira
Criatividade e efemeridade fazem o país trilhar a passarela de um mercado em constante revolução
O Donna Fashion Iguatemi, que no final de março levou para a passarela as propostas mais quentes para o inverno que está chegando, foi muito além da moda. Na sua 20ª edição, comemorou 10 anos de envolvimento com um setor que, mais que roupa, vende conceitos, impulsiona o mercado e aquece a economia. O segmento é o que mais emprega mão de obra feminina no Brasil e fica em segundo lugar no ranking geral, perdendo apenas para a construção civil.
E não é de hoje. Desde o surgimento das escolas de Moda no país, no final dos anos 1980, já era um setor importante e atuante. Sobreviveu às variações cambiais, aos choques econômicos significativos – especialmente no início do governo Fernando Collor, com a abertura de mercado que expôs a fragilidade da indústria têxtil frente aos concorrentes estrangeiros. Com a nova realidade, viu-se obrigado a modernizar seus parques fabris e investir em profissionais.
Os países latino-americanos se uniram no bloco Mercosul e a internet chegou para promover a globalização. Na mesma época, os eventos de Moda – aos moldes dos já consolidados na Europa e nos Estados Unidos – ensaiaram seus primeiros passos em temporadas que, a princípio, pretendiam apenas levar para as ruas o que vinha sendo feito nas escolas. Tudo muito conceitual, mas inspirador para o cenário comercial.
Se o Phytoervas Fashion – o primeiro destes eventos, que estreou em 1994, em São Paulo – repercutiu, foi justamente porque saiu do lugar-comum. Mostrou que moda é mais que roupa e chocou com coleções como Eu Amo Coração de Galinha, do irreverente e, vez por outra, polêmico – mas sempre genial – Ronaldo Fraga. Em 1996, no mesmo ano em que a Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) estreava o primeiro curso de Moda no Estado, em São Paulo surgia o Morumbi Fashion Brasil, dando início ao que hoje se conhece como São Paulo Fashion Week, o calendário oficial que colocou o Brasil no mapa da moda.
Os shoppings também cresciam no país como centros comerciais com cerca de 90% do seu negócio amparado no mercado da Moda. As multimarcas se rendiam às franquias – que vendiam e expandiam novas ideias aos poucos assimiladas – e as grifes nacionais foram impondo seu lugar entre as poderosas internacionais que já tinham conquistado os consumidores locais. Junto com a moda vieram as modelos, responsáveis por levar para fora a imagem de um Brasil sedutor. Os olhos de lá se voltaram para cá. E viram muito mais que mulheres bonitas. Perceberam que aqui era também um mercado promissor e que respirava criatividade. Londres se rendeu ao talento de Carlos Miele, que depois migrou para Nova York – para onde foi também Alexandre Herchcovitch, entre outros estilistas brasileiros.
O amadurecimento foi evidente e colocado à prova durante o último desfile de Jum Nakao na São Paulo Fashion Week, em 2004. Com um impressionante show de roupas delicadamente produzidas em papel – e depois rasgadas, sem dó, em frente a uma plateia incrédula –, ele questionou esse “império do efêmero” – como denomina o filósofo francês Gilles Lipovetsky – e impôs um marco na moda brasileira.
Essa é a nossa realidade mais pura. De lá pra cá, criatividade e efemeridade caminharam cada vez mais próximas e impulsionam ainda mais esse mercado em constante ebulição. As mídias se renderam ao encantamento e ao poder da moda, agora mais ainda em evidência, sustentado pelos blogs – mantidos por quem entende alguma coisa de Moda, ou não, mas que se firmam como influenciadores perfeitos para acelerar ainda mais o processo consumidor que sustenta boa parte da nossa economia.
* Jornalista pós-graduada em Moda
MARISTELA AMORIM
Gostei muito desse texto da Maristela que li já tem alguns meses, por isso divido ele com vocês aqui. Espero que gostem.
Lembro de me emocionar ao ver o desfile de Jun Nakao, para mim, foi um grande marco na moda, que me fez repensar muitas atitudes e pensamentos!
Beijos, Dani